sábado, 29 de dezembro de 2007

Partidas Dobradas

O MÉTODO IDEAL DE ESCRITURAÇÃO



A primeira obra sobre as partidas dobradas foi escrita em Veneza, no ano de 1494. É seu autor o franciscano Luca Paciolo, matemático, nascido em San – Sepolcro, pequena cidade da Toscana, entre 1445 e 1450. O primeiro trabalho de Paciolo foi um tratado de álgebra, escrito em 1470. Dedicou o trabalho aos seus discípulos, filhos de Antônio Rompiasi, um grande mercador do seu tempo. Foi o primeiro escritor que se ocupou do método das partidas dobradas. Contudo, Luca Paciolo não foi o inventor, mas sim o primeiro expositor das partidas dobradas.
Carlos de Carvalho, um dos grandes mestres da contabilidade no Brasil, comenta no prefácio do seu livro Estudos de Contabilidade, Volume I, oitava edição: ”Os nossos maiores comercialistas, ainda aqueles de mais alto renome confundem “método”com “sistema”e dizem, indiferentemente, “método das partidas dobradas”, “sistema das partidas dobradas”. A contabilidade como toda ciência, tem a sua linguagem própria e já agora não admite uma tal confusão. Método das partidas dobradas é um conjunto de regras que se devem observar na escrituração dos fatos administrativos. Um conjunto de regras vem a ser um método. Sistema é um conjunto de contas abertas. Assim se pode dizer que o sistema das contas de casa mercantil foi escriturado pelo método das partidas dobradas ou por outro método qualquer”.
Partidas dobradas ou digrafia é o método com o qual se registra os fatos administrativos de uma “azienda”.
Giovani Massa, referido por vários estudiosos, assim se expressa sobre a origem e o desenvolvimento das partidas dobradas: ”Da queda do império romano até meados do século XIV nenhum conhecimento exato se tem das organizações dos livros e das contas. Em 1345, ano memorável pela quebra dos banqueiros florentinos, as casas Peruzzi e Alberti, as mais reputadas do comércio bancário, não registavam as suas operações de acordo com nenhum método. Isto, porém, não quer dizer que em outros lugares se deixassem de praticar a escrituração, no transcurso de tempo que vem do século XI até os fins do século XIV, observando-se os métodos de escrituração simples, os quais modificados a pouco e pouco, a fim de melhor corresponder às necessidades da administração, deram origem às partidas dobradas que vemos adotadas na segunda metade do século XV. As primeiras aplicações deste método foram feitas certamente na Itália. Que cidades o empregaram primeiro não se sabe ao certo, sendo provável que tivesse sido aplicado não em uma só cidade
O fundamento da partida dobrada é “que não há um devedor sem um adequado credor de idêntico valor”. O método revolucionou a escrituração das “aziendas”.
Rogério Pfaltzgraff faz referência em seu livro Aspectos Científicos da Contabilidade, á página 77, ao conceito expendido por Amilio Oliser Castaner no seu livro La Partida Doble: “ . . . de este deriva el que en partida doble se diga que no hay deudor sin acreedor, y vice – versa; de suerte que cuando cargamos a una cuenta, indispensablemente hay que abonar a outra e a otras cuentas el valor cargado a aquella”.
O tratadista Erymá Carneiro diz no seu livro Contabilidade Mercantil: “Buscando uma base científica para o lançamento das partidas nos livros, os digrafistas estabeleceram o princípio fundamental das Partidas Dobradas, segundo o qual não há devedor sem credor, nem credor sem devedor”.
Fabio Besta, em La Ragioneria – Vol. III – página 607, conforme citação de Carlos de Carvalho, no livro Estudos de Contabilidade, afirma que nas sociedades anônimas, e certamente em todas as sociedades, assim entendemos “só o método das partidas dobradas pode, com os seus saldos do razão, desdobrados em livros auxiliares, quando necessário, dar o valor exato do patrimônio, no balanço geral do ativo e passivo, e ao mesmo tempo a demonstração, na sua conta de Lucros e Perdas, de que é legítimo o dividendo, - de que o capital se conservou imutável, como quer a lei”.
Francesco Marchi, Filipo Parmetler e Francesco Villa afirmam que “não pode haver escrituração completa e perfeita sem o método das partidas dobradas”.
O insigne contabilista mineiro A. Lopes de Sá, na sua monumental obra Dicionário de Contabilidade, diz: “Até as provas apresentadas pelo ilustre mestre Frederigo Melis ( na sua monumental argumentação) intitulada: “ No arquivo Datini, da cidade de Prato. A documentação mais remota do Diário em partidas dobradas”) acreditava-se serem os registros da “massaria”da comuna de Genova (1340) os mais antigos; entretanto, escreveu e provou o Prof. Melis que: “ O mais antigo atestado das contas típicas do método da partida dobrada, que nos autoriza a considerar formado o método é de 1292; existem, todavia, provas de datas anteriores relativas á difusão do processo na cidade de Siena’. “(Frederigo Melis – Nell’archivo Datini di Prato la documentazione piú remota del giornale in partita doppia – Prato, 1954, página 3)”. Diz ainda A. Lopes de Sá: “O mais antigo documento relacionado com o sistema, entretanto, são de uma Companhia mercantil e bancária da cidade de Siena, Toscana, Itália, datado de 22 de dezembro de 1281”.
Jesús Cortés, professor espanhol, em seu livro Contabilidad General, 2ª edição, publicado em 1945, diz : “ . . . en la partida doble toda operación supone una relación de la que resulta una o varias cuentas deudoras y outra u otras acreedores por un valor equivalente”.
Em 1872 surgiu na Itália a Logismografia, de Cerboni, que despertou entusiasmo sendo com o maior empenho e esforço tentado a sua aplicação, sem sucesso, porém, devido ser o método das partidas dobradas não menos científico mas muito mais simples na aplicação A Logismografia foi utilizada na área pública durante o tempo em que Cerboni foi Diretor Geral da Contabilidade do Estado. Logismografia significa “escrituração das contas”. A Estatmografia, criada por Pisani, foi um outro método de escrituração na Itália. Significa “escrituração por balanço”. Segundo os tratadista nada mais é do que o diário – razão, de Degrange, melhorado. Outros métodos foram criados não passando de derivações das partidas dobradas.
Tolstoi C. Klein diz no seu livro História da Contabilidade, á página 67, que pelas investigações que fez os venezianos, antes de Paciolo, contabilizavam em partidas dobradas e, sem rabiscos, sabiam corrigir as contas erradas, por meio de estornos. Informa, ainda, que Paciolo, em sua obra cita os estornos dos venezianos, do seguinte modo: “quando se comete um erro da conta, estornar-se-á”, por ele denominando de “retratare” com a significação de voltar atrás. As contas de Lucros e Perdas eram também conhecidas dos comerciantes venezianos. Paciolo, cita dos venezianos, os “pró” e “dano” ou “utili” e “danni”. Paciolo, foi honesto, jamais atribuindo a si o mérito de criador das partidas dobradas, apenas o expôs de forma clara.
Para a escrituração das operações no livro diário o método das partidas dobradas adota quatro fórmulas com os seguintes enunciados:
Primeira fórmula:- Uma conta devedora e uma conta credora.
Segunda fórmula:- Uma conta devedora e duas contas credoras.
Terceira fórmula:- Mais de uma conta devedora e uma credora.
Quarta fórmula: Mais de uma conta devedora e mais de uma conta credora.
As partidas da primeira fórmula são também conhecidas por partidas simples, as de segunda e terceira fórmula, por partidas complexas ou mistas e as de quarta fórmula, por partidas compostas.

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